Distúrbios alimentares: como a cannabis medicinal pode auxiliar pacientes em tratamento

Distúrbios alimentares: como a cannabis medicinal pode auxiliar pacientes em tratamento

Você já se perguntou por que algumas pessoas com câncer ou HIV utilizam cannabis para estimular o apetite, enquanto outras a usam para controlar a compulsão alimentar? Esta aparente contradição ilustra o fascinante potencial da planta no tratamento de distúrbios alimentares, um grupo de condições que afeta milhões de brasileiros e que vai muito além da simples relação com a comida.

Os distúrbios alimentares são transtornos mentais e psicológicos caracterizados por comportamentos alimentares irregulares que afetam severamente a saúde física e emocional. Para muitos pacientes, encontrar tratamentos eficazes pode ser uma jornada longa e desafiadora – e é aqui que a cannabis medicinal surge como uma possível aliada.

O que são distúrbios alimentares e como afetam a vida dos pacientes

Os distúrbios alimentares manifestam-se de diferentes formas, mas todos compartilham uma característica comum: uma relação disfuncional com a alimentação que impacta significativamente a qualidade de vida. Entre os mais comuns estão:

  • Anorexia nervosa: caracterizada pela restrição severa da ingestão alimentar, medo intenso de ganhar peso e percepção distorcida da imagem corporal
  • Bulimia nervosa: marcada por episódios de compulsão alimentar seguidos de comportamentos compensatórios como vômitos induzidos
  • Transtorno da compulsão alimentar periódica: episódios recorrentes de consumo excessivo de alimentos com sensação de perda de controle

Maria, 32 anos, convive com anorexia desde a adolescência. “Já tentei diversos tratamentos, mas a ansiedade e o medo de ganhar peso sempre voltam. É uma luta diária que afeta meu trabalho, relacionamentos e, principalmente, minha saúde”, relata.

Cannabis medicinal e apetite: uma relação complexa

A relação entre cannabis e apetite é conhecida popularmente – quem nunca ouviu falar da “larica”? No entanto, o que poucos sabem é que esta relação é muito mais complexa e pode ser direcionada terapeuticamente.

Estudos científicos demonstram que a cannabis pode tanto estimular quanto inibir o apetite, dependendo dos compostos utilizados (canabinoides) e da dosagem. Esta versatilidade torna a planta potencialmente valiosa para diferentes tipos de distúrbios alimentares:

Como a cannabis pode auxiliar em diferentes distúrbios alimentares

  1. Para pacientes com anorexia ou perda de apetite:
    • O THC (tetrahidrocanabinol) pode estimular o apetite, sendo útil em casos onde o ganho de peso é necessário
    • Ajuda a reduzir a ansiedade associada à alimentação
    • Pode melhorar a experiência sensorial ao comer
  2. Para pacientes com compulsão alimentar:
    • O CBD (canabidiol) pode ajudar a regular o apetite e reduzir a ansiedade
    • Estudos da Can-Fite Bio Pharma indicam que “frações” do CBD podem impedir a expansão das células de gordura humanas em até 60%
    • Auxilia no controle da impulsividade

O sistema endocanabinoide e os distúrbios alimentares

Uma descoberta fascinante publicada na revista Nature em 2005 revelou que pacientes com anorexia ou outros transtornos alimentares apresentam concentrações elevadas de anandamida – um endocanabinoide naturalmente produzido pelo nosso corpo.

Esta descoberta sugere que o Sistema Endocanabinoide (SEC) está diretamente relacionado ao desenvolvimento das compulsões alimentares. Segundo a pesquisa, existe uma estreita ligação entre o SEC e a grelina, conhecida como o “hormônio da fome”.

“O sistema endocanabinoide funciona como um regulador do nosso apetite, humor e percepção da dor. Quando há desequilíbrios nesse sistema, podem surgir diversos problemas, incluindo distúrbios alimentares”, explica Dra. Carolina Mendes, médica especialista em cannabis medicinal (nome fictício).

O que dizem as pesquisas recentes

Uma pesquisa da Universidade Estadual de Michigan acompanhou 33 mil pacientes entre 2000 e 2019, medindo o Índice de Massa Corporal (IMC) em todas as fases de entrevistas. A conclusão foi surpreendente: pacientes que relataram o uso de cannabis ganharam peso, mas numa quantidade significativamente menor do que aqueles que nunca consumiram canabinoides.

Por outro lado, estudos recentes realizados pela Can-Fite Bio Pharma mostram resultados promissores sobre como certos componentes do CBD podem impedir a expansão das células de gordura humanas. No entanto, é importante ressaltar que estas pesquisas ainda estão em fase de testes e necessitam de mais investigações para confirmação.

Desafios e limitações das pesquisas atuais

Apesar do potencial promissor, é fundamental reconhecer que as pesquisas sobre cannabis e transtornos alimentares ainda são limitadas e, por vezes, apresentam resultados contraditórios. Alguns estudos confirmam que a cannabis estimula o apetite, mas nem sempre observam um aumento efetivo na ingestão de alimentos ou ganho de peso.

Estas inconsistências podem ser explicadas por diversos fatores:

  • Diferentes cepas de cannabis contêm proporções variadas de canabinoides
  • A resposta individual varia conforme a genética e o histórico do paciente
  • Fatores psicológicos complexos envolvidos nos distúrbios alimentares
  • Limitações metodológicas dos estudos existentes

Considerações importantes para pacientes

Se você sofre de algum distúrbio alimentar e está considerando a cannabis medicinal como parte do tratamento, lembre-se:

  1. Consulte especialistas: Profissionais de saúde especializados devem supervisionar qualquer tratamento com cannabis.
  2. Tratamento integrado: A cannabis medicinal deve ser parte de uma abordagem multidisciplinar que inclua acompanhamento psicológico e nutricional
  3. Individualização: O tratamento precisa ser personalizado considerando seu histórico, tipo de distúrbio e necessidades específicas
  4. Monitoramento: Os efeitos devem ser cuidadosamente observados e ajustes na dosagem podem ser necessários

“O tratamento dos distúrbios alimentares é complexo e requer uma abordagem personalizada. A cannabis medicinal pode ser uma ferramenta útil, mas sempre como parte de um plano terapêutico mais amplo”, enfatiza João Silva, psicoterapeuta especializado em transtornos alimentares (nome fictício).

Conclusão: Um caminho promissor que merece mais pesquisas

Os distúrbios alimentares são condições complexas que exigem tratamentos igualmente sofisticados. A cannabis medicinal apresenta um potencial significativo para auxiliar pacientes, seja estimulando o apetite em casos de anorexia ou ajudando a regular os impulsos em casos de compulsão alimentar.

No entanto, ainda precisamos de mais estudos aprofundados para compreender completamente como os diferentes canabinoides interagem com os mecanismos dos distúrbios alimentares. A boa notícia é que o interesse científico nesta área tem crescido, prometendo avanços importantes nos próximos anos.

Se você sofre com distúrbios alimentares, converse com seu médico sobre todas as opções disponíveis, incluindo a possibilidade de incorporar a cannabis medicinal ao seu tratamento. Lembre-se que cada caso é único e merece uma abordagem personalizada.

Perguntas Frequentes sobre Distúrbios Alimentares e Cannabis Medicinal

1. A cannabis pode substituir outros tratamentos para distúrbios alimentares?

Não. Considere a cannabis medicinal como um complemento ao tratamento convencional, que geralmente inclui terapia psicológica, acompanhamento nutricional e, em alguns casos, medicamentos psiquiátricos. O tratamento multidisciplinar continua sendo fundamental.

2. Existe risco de dependência ao usar cannabis para tratar distúrbios alimentares?

Como qualquer substância psicoativa, existe um potencial de dependência, especialmente com produtos ricos em THC. Por isso, o acompanhamento médico é essencial para monitorar o uso e ajustar a dosagem conforme necessário.

3. Como sei qual tipo de cannabis é adequado para meu distúrbio alimentar?

A escolha do produto adequado depende do tipo específico de distúrbio alimentar e dos sintomas predominantes. Produtos com maior concentração de THC podem ser mais indicados para estimular o apetite, enquanto produtos ricos em CBD podem ajudar a controlar a ansiedade e a compulsão. Apenas um médico especializado pode fazer esta recomendação.

4. O tratamento com cannabis medicinal é coberto pelos planos de saúde?

Atualmente, a maioria dos planos de saúde no Brasil não cobre tratamentos com cannabis medicinal. No entanto, existem decisões judiciais que obrigam alguns planos a fornecerem cobertura em casos específicos. Consulte seu plano de saúde e, se necessário, busque orientação jurídica.

5. Como conversar com meu médico sobre a possibilidade de usar cannabis medicinal?

Prepare-se para a consulta reunindo informações sobre seu histórico de tratamentos anteriores e pesquisando sobre cannabis medicinal de fontes confiáveis. Seja honesto sobre suas expectativas e preocupações, e esteja aberto às recomendações do profissional, mesmo que não incluam cannabis.

Atenção: Este artigo tem caráter informativo e não substitui a consulta com profissionais de saúde. Sempre busque orientação médica antes de iniciar qualquer tratamento.

Inscreva-se em nossa Newsletter

Receba novidades e notícias do seu interesse.
Pura inspiração, zero spam ✨