THCV como pré-treino esportivo: evidências científicas e aplicações clínicas 

THCV como pré-treino esportivo: evidências científicas e aplicações clínicas 

Atualmente, o tetrahidrocanabivarina (THCV) está emergindo como um canabinoide de interesse significativo na medicina esportiva, pois oferece propriedades ergogênicas e metabólicas distintas do THC convencional. Diante desse cenário, esta análise não só examina as evidências científicas mais recentes, como também explora os mecanismos farmacológicos envolvidos e as principais considerações clínicas para sua aplicação.

Farmacologia e mecanismo de ação do THCV

Quimicamente falando, o THCV (tetrahidrocanabivarina) é um análogo estrutural do Δ9-THC. No entanto, diferencia-se pela presença de uma cadeia lateral de propila, em vez da cadeia pentila encontrada no THC.Como resultado, essa diferença estrutural confere ao THCV propriedades farmacológicas distintas — particularmente em sua interação com o sistema endocanabinoide.

Perfil farmacológico diferenciado

O THCV apresenta um perfil farmacológico complexo, atuando como:

  • Antagonista dos receptores CB1 em doses baixas
  • Agonista parcial dos receptores CB1 em doses mais elevadas
  • Agonista dos receptores CB2

Por essa razão, essa atividade dual sobre os receptores CB1 contribui para explicar a ausência dos efeitos psicoativos típicos do THC. Além disso, seu impacto sobre o metabolismo energético o torna particularmente interessante para aplicações esportivas.

Evidências científicas para uso como pré-treino

Recentemente, a literatura científica tem fornecido dados promissores sobre a eficácia do THCV como ergogênico natural. Nesse sentido, um estudo clínico randomizado, duplo-cego e controlado por placebo demonstrou que o THCV:

  1. Aumentou significativamente os níveis de energia subjetiva
  2. Elevou índices de atividade física espontânea
  3. Melhorou parâmetros de motivação intrínseca
  4. Promoveu sensação de bem-estar geral

Com base nesses achados, os resultados sugerem mecanismos de ação que podem beneficiar tanto o desempenho físico quanto a aderência a programas de treinamento — aspectos que, aliás, são fundamentais na prática clínica esportiva.

Mecanismos propostos para efeitos ergogênicos

Considerando esse cenário, os efeitos do THCV como pré-treino parecem estar relacionados a múltiplos mecanismos fisiológicos:

  • Modulação dopaminérgica: Além dos efeitos já mencionados, o THCV exerce também influência indireta sobre vias de recompensa e, consequentemente, sobre a motivação.
  • Efeitos termogênicos: Aumento do gasto energético basal
  • Sensibilização à insulina: Otimização do metabolismo de glicose durante o exercício
  • Regulação da AMPK: Entre os possíveis mecanismos envolvidos, destaca-se, sobretudo, a potencial ativação de vias metabólicas e, consequentemente, a produção de energia.

Aplicações clínicas no contexto esportivo e metabólico

Sob essa perspectiva, o THCV apresenta, portanto, um perfil de aplicação clínica potencialmente valioso em diversas situações.

Potencial terapêutico em populações específicas

  1. Atletas com síndrome metabólica subclínica:
    • Melhora da sensibilidade à insulina
    • Redução da resistência periférica à insulina
    • Potencial efeito cardioprotetor
  2. Pacientes com sobrepeso em programas de exercício:
    • Efeito supressor do apetite
    • Aumento da aderência ao exercício
    • Potencialização do gasto calórico
  3. Atletas com fadiga crônica ou overtraining:
    • Modulação do eixo HPA (hipotálamo-pituitária-adrenal)
    • Potencial efeito adaptogênico
    • Melhora da recuperação entre sessões de treinamento

De acordo com a Dra. Jéssica Durand, médica especializada em medicina esportiva, “O THCV demonstra efeitos metabólicos significativos que, por um lado, podem auxiliar na redução do apetite e, por outro, contribuir para a melhora da sensibilidade à insulina — ambos, portanto, parâmetros relevantes tanto para a performance quanto para a composição corporal.”

Considerações farmacológicas para prescrição clínica

A prescrição de THCV no contexto esportivo requer considerações específicas:

Dosagem e farmacocinética

  • Dose-resposta bifásica: Efeitos antagonistas CB1 em doses baixas (1-5mg) e potenciais efeitos agonistas em doses mais elevadas
  • Biodisponibilidade: Variável conforme via de administração (oral, sublingual, inalatória)
  • Metabolismo: Predominantemente hepático, com potenciais interações medicamentosas via CYP450

Janela terapêutica pré-exercício

Com base nos dados disponíveis até o momento, evidências preliminares sugerem, portanto, uma janela ótima de administração entre 30 e 60 minutos antes do exercício, levando em conta:

  • Tempo para absorção e distribuição
  • Pico de concentração plasmática
  • Duração dos efeitos ergogênicos

Aspectos regulatórios e considerações antidoping

Além dos aspectos clínicos, um ponto crítico na prescrição de THCV para atletas profissionais refere-se ao seu status regulatório:

  1. Status na WADA (World Anti-Doping Agency):
    • Canabinoides ainda constam na lista de substâncias proibidas
    • Potencial para resultados falso-positivos em testes de THC
  2. Considerações legais:
    • Variabilidade regulatória entre jurisdições
    • Necessidade de verificação do status legal local
  3. Produtos comerciais:
    • Heterogeneidade de composição e padronização
    • Importância da verificação de certificados de análise
    • Risco de contaminação cruzada com THC em produtos comerciais

Lacunas no conhecimento e direções futuras

Embora os resultados sejam promissores, ainda existem limitações significativas no corpo de evidências atual:

  • Escassez de estudos clínicos de longo prazo
  • Necessidade de investigação sobre efeitos em diferentes modalidades esportivas
  • Ausência de dados sobre interações com outros suplementos ergogênicos
  • Limitações metodológicas nos estudos existentes

Conclusão e implicações para a prática clínica

Em síntese, o THCV representa uma fronteira promissora na interface entre endocanabinoides e medicina esportiva. Além disso, os dados emergentes sugerem aplicações potenciais como agente ergogênico não psicoativo — particularmente em contextos que envolvem componentes metabólicos.

Para o clínico, recomenda-se:

  1. Avaliação individualizada do perfil de risco-benefício
  2. Monitoramento de parâmetros metabólicos em prescrições de longo prazo
  3. Consideração do contexto regulatório e antidoping
  4. Integração com outras estratégias nutricionais e de treinamento

O crescente interesse comercial, evidenciado pelo desenvolvimento de produtos específicos para o contexto esportivo, reflete o potencial desta aplicação, mas também demanda vigilância quanto à qualidade e padronização dos produtos disponíveis.

Perguntas frequentes para profissionais de saúde

Quais são os mecanismos moleculares que explicam os efeitos do THCV no metabolismo energético durante o exercício?

Inicialmente, o THCV atua primariamente como antagonista dos receptores CB1 em doses baixas, o que reduz a sinalização orexigênica e aumenta o gasto energético. Além disso, estudos pré-clínicos sugerem ativação da proteína quinase ativada por AMP (AMPK) em tecidos periféricos, favorecendo a oxidação de ácidos graxos e a biogênese mitocondrial — mecanismos altamente relevantes para a produção de energia durante o exercício.

Como diferenciar clinicamente os efeitos do THCV dos efeitos do THC convencional?

Em contraste com o THC, o THCV não produz efeitos psicoativos significativos nas doses típicas utilizadas como pré-treino (1–5mg). Do ponto de vista clínico, observa-se aumento de energia sem euforia, clareza mental sem alterações perceptuais e ausência dos chamados “munchies” (hiperfagia induzida pelo THC). Além disso, o THCV demonstra um perfil farmacodinâmico distinto, com efeitos mais pronunciados sobre o metabolismo energético e, ao mesmo tempo, menor impacto sobre funções cognitivas.

Quais parâmetros laboratoriais devem ser monitorados em pacientes utilizando THCV como adjuvante em programas de exercício?

Recomenda-se monitoramento de:

  • Perfil glicêmico (glicemia de jejum, HbA1c, HOMA-IR)
  • Perfil lipídico completo
  • Marcadores inflamatórios (PCR ultrassensível)
  • Enzimas hepáticas
  • Perfil hormonal (cortisol, testosterona, DHEA) em atletas de alto rendimento
  • Composição corporal por métodos validados

Existem interações medicamentosas significativas a serem consideradas na prescrição de THCV?

Adicionalmente, o THCV é metabolizado primariamente pelo sistema CYP450, o que implica potenciais interações com medicamentos que compartilham essas mesmas vias metabólicas. Por isso, é fundamental dar atenção especial a:

  • Anticoagulantes e antiplaquetários
  • Beta-bloqueadores
  • Estatinas
  • Antidepressivos
  • No caso dos anticonvulsivantes, a coadministração com outros canabinoides pode gerar efeitos sinérgicos ou, em contrapartida, antagônicos — a depender das proporções e das dosagens utilizadas.

Como orientar a seleção de produtos comerciais contendo THCV para aplicação clínica?

Recomenda-se:

  1. Verificar certificados de análise de laboratórios independentes
  2. Preferir produtos com isolamento e padronização de THCV
  3. Avaliar presença de outros canabinoides que possam influenciar o efeito terapêutico
  4. Considerar a matriz de administração (óleos, cápsulas, vaporizadores) conforme objetivos clínicos
  5. Verificar estabilidade do produto e condições de armazenamento

Nota: Este artigo tem finalidade informativa e educativa. As informações não substituem a orientação médica profissional. Consulte sempre um médico antes de iniciar qualquer tratamento.

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