O Transtorno do Espectro Autista (TEA) afeta milhões de pessoas no Brasil e no mundo, trazendo desafios diários para pacientes e familiares. Enquanto os tratamentos convencionais apresentam limitações, novas alternativas terapêuticas têm surgido, e a cannabis medicinal desponta como uma opção promissora que merece nossa atenção.
O que é o Transtorno do Espectro Autista?
O TEA é uma condição de neurodesenvolvimento que geralmente se manifesta na primeira infância. As pessoas com autismo enfrentam desafios em três áreas principais:
- Comunicação: dificuldades na linguagem verbal e não-verbal
- Interação social: desafios para estabelecer e manter relacionamentos
- Comportamento: padrões repetitivos, interesses restritos e hipersensibilidade sensorial
Cada pessoa com autismo é única, com diferentes níveis de suporte necessário. De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), o TEA agora engloba condições anteriormente separadas, como Síndrome de Asperger, Transtorno Autista e Transtorno Desintegrativo da Infância.
Limitações dos tratamentos convencionais para o TEA
Os tratamentos tradicionais para o autismo frequentemente apresentam eficácia limitada e vêm acompanhados de efeitos colaterais significativos:
- Medicamentos antipsicóticos podem causar ganho de peso, sonolência e problemas metabólicos
- Estimulantes para tratar a desatenção podem provocar insônia e perda de apetite
- Antidepressivos podem gerar alterações de humor e problemas digestivos
Além disso, muitos desses medicamentos apenas tratam comportamentos específicos, sem abordar os sintomas centrais do TEA. É como colocar um band-aid em um problema mais profundo.
Cannabis medicinal: uma nova esperança para o TEA
Como a cannabis age no cérebro autista
O sistema endocanabinoide (SEC) é uma rede complexa de receptores e neurotransmissores presente em nosso corpo, que, por sua vez, ajuda a regular funções como humor, sono, apetite e dor. Além disso, pesquisas recentes sugerem que pessoas com TEA podem apresentar desequilíbrios nesse sistema.
Os fitocanabinoides presentes na cannabis, como o CBD (canabidiol) e o THC (tetra-hidrocanabinol), interagem com esse sistema de maneiras que podem beneficiar pessoas com autismo:
- Neuromodulação: ajustam a comunicação entre neurônios
- Ação anti-inflamatória: reduzem a inflamação cerebral
- Neuroproteção: protegem células cerebrais de danos
O CBD, em particular, atua em áreas do cérebro frequentemente afetadas no TEA, como o lobo temporal, medula e tálamo, sem causar os efeitos psicoativos associados ao THC.
O que dizem as pesquisas científicas
Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais e da Universidade de Brasília acompanhou 18 pacientes com TEA, com idades entre 6 e 17 anos, os quais receberam tratamento com extrato de cannabis rico em CBD. Além disso, os resultados após 12 meses foram promissores:
- 15 pacientes (83%) apresentaram melhora nos distúrbios do sono, convulsões e crises comportamentais
- 47% dos pacientes tiveram melhora significativa (≥30%) em quatro ou mais categorias de sintomas
- Apenas um paciente não apresentou melhora ou teve piora dos sintomas (este estava usando múltiplos medicamentos neuropsiquiátricos simultaneamente)
Além disso, foram observadas melhorias em:
- Desenvolvimento motor
- Comunicação e interação social
- Desempenho cognitivo
Como a cannabis medicinal pode ajudar no dia a dia

Para muitas famílias, a cannabis medicinal tem proporcionado melhorias na qualidade de vida que vão além dos números das pesquisas:
Redução da ansiedade e crises comportamentais
Muitas pessoas com TEA experimentam níveis elevados de ansiedade, os quais podem desencadear crises comportamentais. Nesse contexto, o CBD tem propriedades ansiolíticas que podem ajudar a reduzir essa ansiedade, tornando assim o dia a dia mais tranquilo.
Melhora do sono
Problemas de sono afetam até 80% das crianças com TEA. A cannabis medicinal, especialmente formulações ricas em CBD, pode ajudar a regular o ciclo de sono-vigília, proporcionando noites mais tranquilas para toda a família.
Redução de comportamentos repetitivos
Os canabinoides podem ajudar a diminuir comportamentos repetitivos e estereotipados, permitindo que a pessoa com TEA possa focar melhor em outras atividades e aprendizados.
Melhora na comunicação e socialização
Embora não seja uma cura, muitas famílias relatam que, com a redução da ansiedade e outros sintomas desafiadores, seus filhos com TEA se tornam mais abertos à comunicação e interação social.
Como iniciar o tratamento com cannabis medicinal
Se você está considerando a cannabis medicinal para o TEA, aqui estão alguns passos importantes:
- Consulte um médico especializado: O tratamento deve ser sempre orientado por um profissional com experiência em cannabis medicinal e TEA.
- Avaliação individualizada: Cada pessoa com autismo é única e requer uma abordagem personalizada.
- Início gradual: O tratamento geralmente começa com doses baixas que são aumentadas gradualmente conforme necessário.
- Monitoramento contínuo: Observe e registre mudanças no comportamento, sono, comunicação e outros aspectos relevantes.
- Abordagem integrada: A cannabis medicinal funciona melhor como parte de um plano de tratamento abrangente que pode incluir terapias comportamentais, fonoaudiologia, terapia ocupacional, entre outras.
Considerações importantes
- Legalidade: Certifique-se de seguir os procedimentos legais para obtenção da cannabis medicinal em seu estado.
- Qualidade do produto: Utilize apenas produtos testados e de procedência confiável.
- Expectativas realistas: A cannabis medicinal não é uma cura para o TEA, mas pode melhorar significativamente a qualidade de vida.
- Comunicação com outros profissionais: Informe todos os profissionais de saúde que acompanham a pessoa com TEA sobre o uso da cannabis medicinal.
Perguntas Frequentes
A cannabis medicinal pode substituir outros tratamentos para o TEA?
Não. De fato, a cannabis medicinal deve ser vista como um complemento aos tratamentos existentes, e não como substituta. Além disso, terapias comportamentais, educacionais e outras intervenções continuam sendo fundamentais.
Existe risco de dependência com o uso de cannabis medicinal para TEA?
Formulações ricas em CBD e com baixo teor de THC apresentam risco mínimo de dependência. O médico especialista irá prescrever a formulação mais adequada para cada caso.
Em que idade é seguro iniciar o tratamento com cannabis medicinal?
Estudos têm incluído crianças a partir de 5-6 anos, mas a decisão deve ser tomada individualmente pelo médico em conjunto com a família, considerando riscos e benefícios.
Como saber se o tratamento está funcionando?
É importante estabelecer objetivos claros antes de iniciar o tratamento (como melhorar o sono ou reduzir crises comportamentais) e monitorar esses aspectos regularmente. Muitas famílias mantêm um diário para registrar mudanças.
A cannabis medicinal é coberta por planos de saúde?
Atualmente, a maioria dos planos de saúde no Brasil não cobre medicamentos à base de cannabis, mas existem algumas decisões judiciais favoráveis à cobertura. Vale consultar seu plano e, se necessário, buscar orientação jurídica.
A jornada com o TEA pode ser desafiadora, mas novas opções terapêuticas como a cannabis medicinal trazem esperança para muitas famílias. Se você está considerando esta opção, converse com um médico especializado para entender se ela pode ser adequada para o seu caso específico.
Atenção: Este artigo tem caráter informativo e não substitui a consulta médica. Qualquer tratamento deve ser iniciado apenas sob orientação profissional.